Tuesday, January 31, 2006

Breve história do (nosso) Tempo

Dez anos se passaram desde a licenciatura e é chegada a altura de editar o tradicional livro de curso, passado o intervalo de tempo mágico que na antiguidade conteve os exércitos Helénicos diante de Troia mas que, nesta actualidade vertiginosa e efémera, não foi ainda suficiente para extinguir a chama da amizade dentro deste notável grupo, acesa em Aveiro nos idos de 1985.
Quem não os conheceu, ainda caloiros, organizados na famosa BABAC – a Brigada Anti – Brigada Anti-Caloiros? Odiados por muitos quando a fila da cantina misteriosamente ganhava um enorme inchaço, amados por outros(as) quando um certo Fiat punto dava música a quantos estendidos na relvinha ruminavam as últimas espinhas do almoço.
A equipa de futebol mais representativa deste curso, adoptando uma designação sujeita cada semestre a uma mutação (genética), sempre manteve o elemento chave – a P’ - de que mais tarde alguém fez tema de tunas com grande sucesso, a propósito de certo escaldão... Campeã um ano e vencedora da taça noutra ocasião, deu aos seus adeptos também muitas tristezas, pretexto para outras tantas noites da mais destravada copofonia. Magnanimamente o curso ainda cedeu alguns dos seus maiores craques a equipas como os Mega-Byte ou os Black Panters. Somos assim - que se há-de fazer?
A seguir ao futebol, neste país sempre em primeiro lugar, lembremos também valiosos contributos deste curso para a vida cultural da academia. Os “Manéis da Ginginha”, grupo de intervenção na onda média algures entre o Fausto e o Quim Barreiros, os Barões Assinalados, uma tentativa de rock sinfónico, por vezes “sem-fónico”, os Discípulos de Baco que faziam serenatas nas melhores janelas, os Gabonários da Ordem do Bastão, os Ratos da Morcegónia – a primeira Tuna nova-onda-Xunga na Academia de Aveiro, presenças na Tuna Académica da Universidade de Aveiro (na original), no Órfeão Universitário de Aveiro, etc., etc., etc.
Sempre presentes nos Enterros do Ano com belos discursos improvisados à mesa do jantar no próprio dia – só para os exames é que se trabalhava de véspera! - não houve desfile que não chocassem com a sua irreverência. Atitude desconcertante mesmo para a liberal Aveiro dos congressos de oposição democrática. Desde mafiosos capitaneados pelo temível Brasuca, a “mulheres” de electrónica, réplica aveirense inconsciente e involuntária às “meninas do técnico”, foram também tarados do metro e outras bizarrias. Tudo serviu para esconjurar a pressão nessas memoráveis noites de quinta-feira!
Dos professores, muito haveria a dizer se nos não tolhesse um certo dó cristão desses infelizes. Infelizes porque o eram e porque o foram – condenados a tratar de nós!... Desde uma certa estrelinha de... azar, que nos sensibilizava para os distantes quasares e buracos negros (como se tal fosse necessário...)! Passando pelo Culom, a conhecida unidade de carga no sistema internacional, que apelava à turma (esquecendo a presença de senhoras) para que o imaginasse erguendo um pau de ferro, aparentemente para segurar melhorar as antenas... Enfim!
E como esquecer o mítico “ar quadrado” que, tomando-nos por crianças, nos ordenava: “caga no bacio”. A verdade é que, 10 anos passados, olhando as fotos daquele tempo... vemos crianças também. Não espanta hoje o encarniçamento do Esteves do 2º ano, na perseguição ao Tozinho e aos outros quando o piquete da BABAC se distraía. E o feroz? E o egocêntrico chucro profiláctico? E o Moreno sempre passando por veterano, ao largo...
E as idas de boleia ou bicicleta à praia da Barra? A sorte era haver muito trânsito para a Barra e Costa Nova, apeando-nos sempre na famosa rua 5 ou no paredão, conforme o vento... O azar... era certo trânsito para a Praia dos Franceses (Vagueira?)...
Mas tudo acabou em bem com uma aventurosa e animadíssima viagem a terras Germânicas e Italianas a que não faltaram as agruras do diálogo com um movimento de dissidência política que ficou conhecido na história como os “Contras nicaraguenses” – mas que eram, afinal, tão bons rapazes como os outros. Não há, de facto, rapazes maus. Raparigas, só uma ou outra... Tirando algumas incursões pelas políticas académicas, tendo diversos elementos do ano estado ligados a núcleos, sectores e à própria direcção da Associação Académica, o curso decorreu placidamente entre aulas, exames, boémia e férias. Não havia, como umas décadas antes, o espectro da guerra colonial a ensombrar o futuro, nem, uma década volvida, o vazio existencial esvaziando insidiosamente a vida do seu sentido – qualquer que ele seja para cada um!
Belo foi o pacto que fizemos ou imaginámos de não contribuirmos com os nossos saberes e tecnologias para a guerra, para a destruição do homem pelo homem. Fica bem - mesmo a engenheiros!
Luis Botelho Ribeiro

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